Pais estão enfrentando dificuldades na hora de encontrar medicamentos para os filhos nas farmácias do Distrito Federal. Em visita às drogarias na Rua das Farmácias, principal referência para compra dos produtos no DF, localizada na 102 Sul, a reportagem verificou que xaropes e pastilhas utilizados para tratamentos de gripes e doenças respiratórias, além de antibióticos infantis, estão entre os principais remédios em falta.
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), o desabastecimento, iniciado há cerca de 60 dias, em drogarias e farmácias, afeta outros 17 estados, além da capital federal. Para o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do DF (Sincofarma-DF), a baixa na entrega de produtos ocorre desde dezembro do ano passado.
Medicamentos que estão em falta
De acordo com gerentes e farmacêuticos das unidades, a lista de medicamentos em falta é extensa. Antibióticos como: Amoxilina, Clavulanato, Azitromicina líquida, em todos os tamanhos, e Claritromicina em xarope não estão disponíveis nas prateleiras visitadas. O analgésico Paracetamol bebê também não é encontrado há meses nas gôndolas.
Dos produtos que chegam, esporadicamente, em baixas quantidades e acabam muito rápido encontram-se os analgésicos Dipirona injetável e xarope, soro fisiológico hospitalar e pastilhas para gargantas, como Strepsils e Benalet.
O medicamento Venvance, utilizado no tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), também entra na lista dos que ficam pouco tempo disponíveis. Além dele, o expectorante Acetilcisteina e o remédio utilizado para aliviar sintomas na rinite alérgica Desalex são comprados em grandes quantidades quando encontrados pelos consumidores e, por isso, são comprados com muita velocidade.
Para os profissionais, que pediram para não serem identificados, é bastante difícil fazer pedidos de compra dos medicamentos citados nas distribuidoras. Ainda, o aumento de infecções respiratórias, oriundo das mudanças climáticas, bem como o recente pico de casos de Covid-19 no DF estão entre os principais fatores que deram origem a este cenário.
O que diz o Sincofarma-DF
“Não tem como a gente analisar e ter uma previsão de quando vai voltar o abastecimento. Não tem promessa para ser resolvido no curto prazo; este ano está comprometido. É uma situação esquisita que nunca aconteceu em 40 anos que eu tenho de farmácia”, avalia o ex-presidente do Sincofarma-DF, Francisco Messias Vasconcelos.
Segundo o representante da categoria, os principais fatores que impactaram no desabastecimento são a pandemia de Covid-19, que ocasionou um aumento da demanda, concomitante a uma redução das atividades industriais. Também destaca que o conflito entre Rússia e Ucrânia gerou dificuldades para que a China ─ maior fornecedora de insumos e embalagens do mundo ─ conseguisse transportar os materiais.
O que diz o Conselho Federal de Farmácia
Procurado, o CFF informou, em nota, que a solução do problema passa pelo incremento da produção nacional tanto de matéria-prima, quanto dos medicamentos. O secretário-geral do conselho, Gustavo Pires, destacou que os relatos de falta de medicamentos em hospitais começaram em dezembro do ano passado e o desabastecimento em farmácias e drogarias iniciou-se há cerca de 60 dias. Veja a nota na íntegra:
“O Conselho Federal de farmácia (CFF) atribui o desabastecimento a falhas logísticas em razão da já repercutida descontinuidade de fabricação de alguns fármacos pela indústria, para priorizar medicamentos com maior demanda gerada pela pandemia de covid-19; da soma desse fator com a disseminação de epidemias, notadamente de síndromes respiratórias e doenças virais; da falta de matéria prima, em decorrência da guerra na Ucrânia e do lockdown na China, que impacta tanto a fabricação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), quanto a chegada ao país dos estoques já adquiridos, parados na origem pelo fechamento dos portos chineses; e da necessidade de substituir os medicamentos em falta, o que gera um efeito cascata, dificultando o acesso a estes fármacos que substituem aqueles com o abastecimento mais crítico.
Para o conselho, a solução do problema passa pelo incremento da produção nacional tanto de matéria-prima, quanto dos medicamentos; alternativas para o melhor planejamento de compras no serviço público, visando à manutenção dos estoques; e estratégias para um monitoramento mais eficiente dos estoques de medicamentos.
Todas as regiões do país foram afetadas e, pelo menos, 17 estados brasileiros e o Distrito Federal relatam o problema. São eles Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
A maior parte dos medicamentos em falta são formulações líquidas, o que afeta em especial os pacientes pediátricos, que têm mais facilidade de ingerir os medicamentos dessa forma. Segue relação das classes de medicamentos em falta:
• Antimicrobianos
• Mucolíticos
• Anti-histamínicos
• Analgésicos”