À frente das investigações do caso do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante na madrugada desta segunda-feira (11) pelo crime de estupro de vulnerável, a delegada Barbara Lomba afirma que o médico pode ser considerado um criminoso em série.
A polícia apura se o suspeito cometeu ao menos outros cinco estupros -sendo dois no mesmo dia do abuso que foi filmado por enfermeiros.
“Pela repetição das ações criminosas podemos dizer, por que não, que ele é um criminoso em série”, disse ela a jornalistas nesta quarta-feira (13) na Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense onde ocorreram os fatos investigados.
A equipe de enfermagem do Hospital da Mulher Heloneida Studart vinha desconfiando havia cerca de um mês do comportamento do médico. No domingo (10), gravaram Bezerra colocando o pênis na boca de uma paciente desacordada, durante uma cesárea.
Segundo a delegada, a investigação do estupro que foi filmado está quase finalizada. Falta ouvir a vítima e receber a conclusão da perícia sobre o material que foi apreendido, como a gaze que ele teria utilizado para limpar o próprio pênis após o crime e os frascos de medicamento usados para sedação. Os itens foram encaminhados nesta quarta para serem periciados.
Lomba diz que “muito provavelmente” Bezerra aplicava sedação em excesso nas pacientes para estuprá-las. “A sedação pareceu desnecessária, ao final do procedimento. A vítima não estava nervosa, agitada. Tudo indica que era feita para a prática do estupro”, afirma.
Se a polícia comprovar que houve reiteradamente sedações desnecessárias ou em doses excessivas que possam ter causado prejuízo às vítimas, o suspeito pode ser responsabilizado por outros crimes. “Aí vamos avaliar qual seria o tipo penal”, disse a delegada na terça-feira.
Em relação aos outros possíveis estupros, inclusive dois que teriam ocorrido no próprio domingo, as investigações continuam. Será preciso coletar novas provas e os depoimentos das supostas vítimas.
O Hospital da Mãe, em Mesquita, município da Baixada, onde um dos crimes pode ter acontecido, prometeu enviar até quinta-feira (14) a lista de pacientes acompanhadas pelo suspeito.
Segundo os depoimentos de técnicos e enfermeiros à polícia, Bezerra utilizava três estratégias para abusar das vítimas -aplicava sedação excessiva nas pacientes durante o parto, pedia que os maridos se retirassem da sala antes que a cirurgia fosse finalizada e levantava uma espécie de cortina para dificultar que outros profissionais presentes no local vissem a cabeça da paciente.
Nesta terça, a Justiça do Rio de Janeiro converteu a prisão em flagrante em preventiva, com prazo de 90 dias prorrogáveis, e decidiu que ele seria levado para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, que abriga detentos com nível superior.
Ele estava acompanhado de um advogado na audiência de custódia, mas sua defesa ainda não se apresentou publicamente. O médico ficou em silêncio em depoimento à Polícia Civil.
No processo eletrônico do Tribunal de Justiça do RJ, Pedro Yunes Marones de Gusmão aparece como seu advogado. A reportagem tentou contato em seu escritório, mas não obteve retorno.
O advogado Hugo Novais chegou a assumir o caso, porém desistiu no fim da tarde desta segunda. Antes, ele havia dito que só se manifestaria sobre a acusação após ter acesso aos depoimentos e provas apresentados na audiência de custódia