Uma operação resgatou oito trabalhadores que eram submetidos a condições análogas à escravidão em Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal. Eles prestavam serviço em uma fazenda cortando eucaliptos que seriam usados para produção de carvão vegetal. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), eles não tinham treinamento nem vestes apropriadas, trabalhavam sem banheiro e com pouca água para beber e eram alojados em uma casa ao lado de um chiqueiro.
A operação do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foi coordenada por auditores fiscais do trabalho e teve início na última quarta-feira (29).
O trabalho só terminou na segunda-feira (3), quando dois homens, sendo um dono da fazenda e um empregador, foram notificados a retirar os trabalhadores do alojamento imediatamente e também a formalizar os vínculos empregatícios, além de pagar todas as verbas trabalhistas devidas.
Até a última atualização desta reportagem, o g1 não havia obtido contato com as defesas dos suspeitos de envolvimento para que se posicionem.
Segundo o procurador Tiago Siqueira Barbosa Cabral, dos oito trabalhadores, sete foram aliciados no interior do Maranhão pelo empregador, que os contratava sem formalizar o vínculo empregatício. O oitavo é de Corumbá de Goiás, na região central do estado.
Ao chegarem de ônibus em Novo Gama, os trabalhadores eram levados à fazenda para trabalharem nas plantações de eucaliptos. O procurador contou que este grupo que foi resgatado trabalhava no local há cerca de duas semanas.
Na fazenda inspecionada, os auditores-fiscais do trabalho encontraram os trabalhadores derrubando eucaliptos em locais sem banheiro, sem vestimenta de trabalho, sem treinamento, com apenas uma garrafa pequena de água para beber durante todo o dia e sem condições de primeiros socorros em caso de acidentes de trabalho.
Os próprios trabalhadores relataram ao MPT que começavam a trabalhar às 6h e iam até 17h, de segunda a sábado, e recebiam por diária valores abaixo do combinado.
Eles relataram que, no alojamento onde eram colocados para dormir, a alimentação se resumia a arroz, feijão e uma carne, e que o local fica ao lado de um chiqueiro, que possui mau cheiro. Além disso, não havia água quente para banho, vários trabalhadores tinham que dormir no chão, a descarga do banheiro não funciona e o local não tem as mínimas condições de higiene.
“Eles não tinham proteção individual de trabalho, não tinham local para fazer as necessidades fisiológicas, não tinham treinamento. Também tinha um fator de exaustão em relação à jornada de trabalho e alimentação inadequada. Eles tinham apenas um café puro pela manhã e, depois, o almoço era, basicamente, arroz, feijão e frango”, contou o procurador.
Ainda segundo o relato dos próprios trabalhadores, alguns deles haviam sofrido cortes com facão nas pernas enquanto cortavam os eucaliptos. No entanto, mesmo feridos, eram obrigados a trabalhar, já que o empregador os dizia que, se parassem de trabalhar, não teriam o pagamento da diária de trabalho.
Após a fiscalização, o dono da fazenda e o empregador foram notificados a retirar os trabalhadores do alojamento imediatamente, o que aconteceu na semana passada, e também a formalizar os vínculos de emprego, além de pagar todas as verbas trabalhistas devidas.