A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), com o apoio da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), deflagrou nesta quarta (20) a Operação “Falso Anúncio”, voltada ao cumprimento de cinco mandados de prisão temporária e cinco mandados de busca e apreensão (MBAs), expedidos pela Justiça Criminal do DF.
A ação tem como objetivo desarticular grupo criminoso suspeito de atuar de forma organizada na prática de crimes de extorsão por meios digitais, com foco em vítimas localizadas no Distrito Federal e em outras unidades federativas.
A investigação teve início em fevereiro de 2025, após a vítima, um homem de 31 anos de idade, ter acessado um site de acompanhantes e ter sido extorquido pelo bando.
Na ocasião, após conversar com uma suposta garota de programa que se apresentava como disponível para os serviços, combinaram o programa pelo valor de R$ 100,00 (cem reais) em um hotel situado em Taguatinga. Ao chegar ao local, o homem foi orientado a realizar o depósito do valor combinado, o que fez imediatamente por meio de transferência via PIX.
Logo após o pagamento, foi surpreendido com uma nova exigência: a suposta acompanhante afirmou que seria necessário um pagamento adicional de R$ 100,00 (cem reais) para que o quarto fosse liberado. Diante disso, a vítima passou a desconfiar do esquema e informou que desistiria do encontro.
Foi então que começou a receber mensagens ameaçadoras por WhatsApp, por um homem que se identificou como integrante do Primeiro Comando e afirmou ser o “cafetão” da garota de programa. Ele exigiu o pagamento de mais R$ 500,00 (quinhentos reais), sob a alegação de que a vítima havia atrapalhado a agenda da garota, a qual teria desmarcado outros compromissos e causado prejuízo.
As ameaças eram diretas e graves: o criminoso afirmou que mataria a vítima caso o valor não fosse pago. Para agravar o medo, os criminosos enviaram fotos da família da vítima e de um de seus veículos, imagens que estavam publicadas em seu perfil no Instagram, demonstrando ter feito um rastreamento detalhado de suas redes sociais.
Diante do temor por sua integridade física e a de seus familiares, a vítima realizou o depósito de R$ 500,00, totalizando R$ 600,00 (seiscentos reais) pagos aos criminosos.
Após o segundo pagamento, os suspeitos não cessaram as exigências. Passaram a cobrar mais R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), alegando que só assim “colocariam uma pedra em cima do assunto”. Diante da impossibilidade e do risco crescente, a vítima recusou-se a pagar o novo valor e, imediatamente, se dirigiu à Delegacia de Polícia para registrar o boletim de ocorrência e relatar todo o ocorrido.
Estrutura criminosa e divisão de tarefas
A análise de dados bancários, telefônicos e cadastrais revelou a existência de uma associação criminosa estruturada, com divisão clara de tarefas entre os envolvidos. Os cinco investigados, sendo três homens e duas mulheres, têm idades entre 21 e 27 anos, e são naturais do município de Montes Claros/MG, onde todos os endereços investigados estão localizados.
A investigação identificou as seguintes funções dentro do grupo:
– Uma mulher (23 anos): responsável pela criação dos anúncios falsos, interlocução direta com as vítimas e envio de mensagens ameaçadoras. Utilizava números de telefone e e-mails falsos, operando a partir de aparelhos celulares com múltiplos chips.
– Um homem (27 anos): atuava como operador das contas bancárias e recebedor dos valores ilícitos via PIX, coordenando o fluxo financeiro do esquema.
– Um homem (21 anos): responsável por alterar os números de telefone nos anúncios logo após a consumação dos golpes, com o objetivo de dificultar o rastreamento pelas autoridades.
– Duas pessoas (21 e 23 anos): atuavam como “laranjas” ou “conteiros”, fornecendo dados bancários e chaves PIX para receber os valores extorquidos, caracterizando indícios de lavagem de dinheiro.
Os criminosos utilizavam técnicas avançadas de ocultação digital, como a troca frequente de números de telefone, o uso de múltiplos chips e e-mails falsos, além de contas bancárias em nomes de terceiros. Um dos números usados nas ameaças chegou a ser cancelado dias antes do crime e reativado em nome de uma empresa, evidenciando tentativa deliberada de ocultar a autoria.
Atuação nacional e reiteração criminosa
A investigação revelou que o grupo atua de forma reiterada e em âmbito nacional. Além do caso em apuração, foram identificadas outras três ocorrências no Distrito Federal com a mesma metodologia criminosa, envolvendo extorsão, ameaça e uso de anúncios falsos. Anúncios idênticos foram localizados em outros sites de acompanhantes, todos vinculados aos mesmos e-mails e estrutura de pagamento.
Ações deflagradas
A operação ocorre simultaneamente nos cinco endereços identificados em Montes Claros/MG, com o objetivo de prender os integrantes do grupo criminoso e preservar provas digitais e materiais que possam comprovar a atuação criminosa e ampliar o raio de investigação.
Além da prisão temporária dos suspeitos, os mandados de busca e apreensão visam a apreensão de celulares, computadores, documentos, mídias digitais, chaves PIX e eventuais valores em espécie, elementos essenciais para a continuidade das investigações e identificação de novas vítimas.
Nome da Operação: “Falso Anúncio”
O nome “Falso Anúncio” foi escolhido para refletir com clareza e objetividade o modus operandi central do grupo criminoso: a criação de anúncios fraudulentos em sites de acompanhantes, com o intuito de atrair vítimas para um esquema de extorsão virtual. A denominação destaca o artifício inicial do golpe — o anúncio falso — que serve como isca para aplicar o crime de estelionato seguido de ameaças e cobrança de valores não combinados