No DF, negligência está entre principais fatores de risco no trânsito

Excesso de velocidade, falta de experiência na condução de veículos, embriaguez ao volante. Esses são os principais fatores de risco que tiram vidas no trânsito da capital. Após percorrer os endereços da morte no Distrito Federal, a reportagem do Correio ouviu estudiosos para entender quais motivos, além dos estruturais, que causam tantos registros em pontos específicos. Os dados analisados referem-se aos quatro primeiros meses de 2020, 2021 e 2022, quando 78 pessoas faleceram no trânsito do DF, incluindo vias urbanas e rodovias que cortam a cidade.

Os números mostram que a quantidade de mortes provocadas por condutores bêbados e por falta de experiência dos motoristas, somente de janeiro a abril de 2022, mais do que dobrou em relação aos casos de 2021. As ocorrências envolvendo alta velocidade tiraram a mesma quantidade de vidas no intervalo de 2021 e 2022. Os números são do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF).

 

Embora a inexperiência não se enquadre exatamente em irresponsabilidade, alcoolemia e excesso de velocidade podem ser classificadas como descaso e negligência. Foi justamente pela falta de compromisso com a vida alheia que Gabriela (nome fictício) perdeu o amigo Brendo Santiago de Oliveira, atropelado enquanto atravessava uma faixa de pedestres de bicicleta em Santa Maria, em julho do ano passado. O condutor, identificado apenas como Paulo Henrique, 28 anos, não prestou socorro ao jovem, de apenas 20. O motorista responde ao processo em liberdade. “Até hoje, pesquiso o nome dele (Brendo) para ver se consigo acreditar em tudo. Acho que depois que o ódio passou, só consegui me perguntar: por quê?”, questiona a amiga. “Ele (Paulo) era habilitado, desceu do carro, olhou e foi embora. Eu tenho nojo da pessoa que ele foi com o Brendo”, desabafa Gabriela.

 

Não há confirmação sobre o estado de embriaguez de Paulo no momento do atropelamento, mas a amiga acredita que ele deveria estar sob efeito de álcool. “Ele esperou três dias para depor, provavelmente para esperar o álcool sair do corpo, o que mostra que não sente nenhuma culpa. Espero que ele não esteja em paz com o que fez, porque nós não estamos”, arremata a jovem. David Duarte Lima, presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, aponta os efeitos nocivos do álcool no trânsito, que incluem mudança de comportamentos, alteração na percepção e agravamento do estado de saúde dos envolvidos no sinistro. “A pessoa passa a negligenciar riscos e a desobedecer às leis de trânsito, geralmente se submetendo a situações mais arriscadas. Há diminuição dos reflexos e no tempo de reação, além de atrapalhar a visão. Foi descoberto, há cerca de 40 anos, com estudos nos Estados Unidos, que, quanto mais alcoolizada a pessoa estiver, menor a chance de sobrevivência, para o mesmo golpe”, alerta o doutor em segurança no trânsito.

Insegurança

David Duarte Lima destaca que, dos três fatores de risco que mais matam no trânsito, a alta velocidade é o mais perigoso. “Quanto maior a velocidade, menor é o tempo de reação do condutor e da possível vítima”, explica o professor da Universidade de Brasília (UnB), que cita também o aumento da distância de frenagem, percorrida depois de o veículo ser freado, até o momento da parada total. Para o especialista, a consequência mais grave de dirigir em alta velocidade reside na severidade das ocorrências. “Quanto maior a velocidade, maior a gravidade dos ferimentos em caso de colisão. Quando a velocidade dobra, a violência da colisão aumenta quatro vezes, ou seja, um choque a 60km/h é quatro vezes mais brutal do que a 30km/h. É a energia cinética”, completa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

error: Content is protected !!
Open chat